A gente cresceu ouvindo que quem ama cuida. Mas de tanto repetir, distorceram o sentido disso. Cuidar virou vigiar. Amar virou controlar. E o ciúme? Virou sinônimo de afeto.
Só que não é.
Ciúme não é demonstração de amor. É sinal de insegurança. É medo da perda, da rejeição, do abandono — que muitas vezes nem tem a ver com o outro, mas com a história emocional de quem sente. E isso não torna a pessoa "tóxica", "louca" ou "insegura demais". Torna ela humana. Só que humana precisando olhar pra dentro.
Muita gente romantiza ciúmes como forma de atenção: "ele sente ciúmes porque me ama". Mas o que está por trás, na maioria das vezes, é a tentativa desesperada de ter controle sobre algo que é, por natureza, livre: o afeto. E controlar o outro não diminui a angústia — só afasta e desgasta.
É aí que entra a psicologia: para ajudar a entender de onde vem esse medo, o que foi vivido antes, por que o afeto virou ameaça. A construção de relações saudáveis a por reconhecer que o outro não é propriedade. Que amar exige confiança, e confiança exige maturidade emocional.
E não, ciúme não "dá uma apimentada" na relação. Quem sente isso como "prova de amor", talvez esteja confundindo intensidade com presença. Amor de verdade não grita, não exige senha de celular, nem fiscaliza roupa. Amor saudável é aquele que deixa livre, e mesmo assim escolhe ficar.
Nailton Reis é Neuropsicólogo Clínico em Cuiabá.
CRP 18/7767